Resenha: Feminilidade Radical: Fé feminina em um mundo feminista - Carolyn McCulley
- Helen Loch Apolinário
- 19 de jul. de 2020
- 9 min de leitura

ANÁLISE CAPA:
Podemos dividir a capa entre: (i) a parte que está escrito “Fé feminina em”, colorida, alegre, em alto-relevo, brilhosa e; (ii) “um mundo feminista”, preto e branco, liso, fosco, triste.
INFORMAÇÕES TÉCNICAS DO LIVRO:
Original: Chicago, 2008.
Traduzido para o português e publicado pela Editora Fiel, em 2017.
Divisão: Introdução, prefácio, 8 capítulos, apêndice, reconhecimentos e agradecimentos.
Possui 364 páginas.
Assunto: vida cristã; mulheres; feminismo.
BIOGRAFIA DA AUTORA:
Carolyn McCulley é autora, palestrante e cineasta. O livro conta um pouco a respeito do seu período como universitária, depois como jornalista e também sobre a sua conversão, mas de forma bem sucinta.
INTRODUÇÃO
A introdução do livro foi escrita por Wayne Grudem que é autor de diversos livros - inclusive o livro “Teologia Sistemática”, amplamente conhecido -, Ph.D. pela Universidade de Cambridge, titular do Departamento de Teologia Bíblica e Sistemática na Trinity Evangelical Divinity School, nos Estados Unidos.
Ele inicia a introdução com uma pergunta “Por que ninguém nos contou isso antes? ” Tal questionamento foi realizado à Carolyn por mulheres cristãs em uma palestra.
Wayne apresenta o que encontraremos no livro: (1) conhecimento dos ensinamentos bíblicos sobre homens e mulheres; (2) narrativas históricas sobre a vida de líderes feministas; (3) história de pessoas que fizeram a transição do feminismo, prostituição, infidelidade matrimonial de uma história de abuso para o cristianismo, para servir a Jesus e; (4) escrita atraente, de ótima qualidade.
Wayne conta um pouco sobre seu próprio casamento com Margaret.
“Parece-me que é assim que o matrimônio deve funcionar – oração, amor e conversa, e cada um se importando com o outro, mas, então e finalmente, o esposo como cabeça do lar tem a responsabilidade de tomar a decisão. ”
CAPÍTULO 1 – UMA FEMINILIDADE DISTORCIDA
McCulley inicia seu livro contando a respeito de como conheceu o feminismo e como se converteu ao cristianismo. No início de sua caminhada cristã, McCulley relata que foi difícil aceitar a passagem de Efésios 5:22-24, onde fala sobre submissão. Mas, depois, ela aprendeu acerca da liderança servil na igreja e continuou a ler a passagem de Efésios, nos versículos 25-31. Foi aí que McCulley compreendeu a diferenciação de papéis.
“Acontece que o feminismo está parcialmente certo. Os homens pecam.”
“O feminismo (assim como a maioria dos ‘ismos’) aponta o dedo para outros pelos problemas da vida. Mas eu aprendi que a Escritura nos diz que as outras pessoas não são o verdadeiro problema. Nossa natureza pecaminosa (Tg 4.1-3), as forças do mal (Ef 6.12) e a sedução do mundo presente (1Jo 2.15-17) são nossos verdadeiros problemas. ”
A autora destaca que homens e mulheres possuem papéis diferentes a fim de realizar os propósitos de Deus, em seu reino.
CAPÍTULO 2 – OS HOMENS NÃO SÃO O PROBLEMA
Neste capítulo a autora introduz a história básica do feminismo, através da vida de três mulheres: Elizabeth Cady Stanton, Simone de Beauvouir e Betty Friedan.
Em 1848 a Convenção de Direitos das mulheres se reuniu em Seneca Falls, Nova Iorque. Tal convenção foi realizada por cinco mulheres, incluindo as ativistas Elizabeth Cady Stanton e Lucretia Mott. As participantes do evento emitiram a “Declaração de Sentimentos” que reclamava por tratamento igual as mulheres, perante a lei, moldada segundo a “Declaração de Independência”. Historiadores consideram este o ponto de partida da primeira onda do feminismo ou a campanha para obter o direito ao voto das mulheres.
“Na sessão de encerramento, Lucretia Mott conseguiu a aprovação de uma resolução final ‘pela derrubada do monopólio do púlpito, e pela garantia às mulheres de participação igual a dos homens nos vários negócios, profissões e comércios’” (National Portrait Gallery da Instituição The Smithsonian – citado no livro)
A autora define Elizabeth Cady Stanton como sendo a “personificação do feminismo da primeira onda”. Ela diz que seu ativismo iniciou com a reforma do casamento e do sufrágio e depois migrou para a religião.
Stanton desenvolveu sua crença ateísta quando ainda era jovem, reação às reuniões de avivamento lideradas pelo evangelista Charles Finney.
“Temores do juízo apoderaram-se da minha alma. Visões dos perdidos assombram meus sonhos. Angústia mental abateu minha saúde. Perda de razão foi percebida por meus amigos [...]. Retornando à noite, eu frequentemente levantava meu pai de seu sono para que orasse por mim, para que eu não fosse lançada ao abismo sem fim, antes da manhã. ” (Elizabeth Cady Stanton – citado no livro)
A família de Stanton a convenceu a ignorar a pregação de Finney e a levou para um passeio nas Catarátas do Niágra, a fim de limpar sua mente. Depois do passeio ela escreve:
“(...) minhas superstições religiosas deram lugar a ideias racionais baseadas em fatos científicos, (...).”
Diferentemente das afirmações de Stanton, quando a Bíblia é realmente pregada a história evidencia que a condição feminina melhora. A própria Reforma Protestante, tinha afetado de forma positiva a condição das esposas, colocando o matrimonio sob o clamor das Escrituras (Sola Scriptura). Mesmo historiadores seculares admitem que poucas pessoas moldaram o casamento como Martinho Lutero.
"Lado a lado, duas almas cristãs eram encorajadas a compartilhar prazeres e deveres desta terra à medida que eles simultaneamente percorrem cada um seu caminho, passo a passo para a vida eterna." (Marily Yalom)
Simone de Beauvoir e seu marido Jean Paul Sartre são considerados, em alguns círculos, como um dos casais mais influentes do século XX. Eles tinham um relacionamento aberto, onde podiam se relacionar com outras pessoas, desde que contassem tudo um ao outro. Beauvoir argumentou que as mulheres foram “aprisionadas” pelos papéis de esposa, mãe e amante, sendo assim, ela defendia que “todas as formas de socialismo, ao separar a mulher da família, favorecem a sua libertação. ” (Mary Kassian – citado no livro)
Betty Friedan foi a autora do livro “A Mística Feminina”, de 1963, onde ela fala sobre uma “inominada dolorosa insatisfação” entre as donas de casa suburbanas, a qual ela denominaria de “o problema sem nome”. Friedan denomina tal problema sem nome como “voz dentro das mulheres que diz: ‘eu quero algo a mais que o meu marido, filhos e lar.’” (Betty Friedan – citado no livro)
A autora conclui o capítulo esclarecendo que existe uma tensão entre homens e mulheres ou o “absoluto” e o “outro” como chama Beauvoir em seu livro, esse problema chama-se pecado. E que tanto a masculinidade quando a feminilidade são ideias de Deus, portanto, existe algo que reflete a Sua imagem e semelhança em cada sexo.
CAPÍTULO 3 – É ASSIM QUE DEUS DISSE...?
Glória Steinem, jornalista, tinha a tendência de proferir algumas frases de efeito, como, por exemplo:
“Algumas de nós estão se tornando os homens com quem queríamos de nos casar.”
“Uma mulher livre é alguém que faz sexo antes do casamento e tem um emprego depois dele.”
“Uma mulher precisa de um homem da mesma forma que um peixe precisa de uma bicicleta.” (Frase que Glória Steinen tornou famosa, mas, na realidade era uma citação de uma feminista australiana, Irina Dunn)
A autora deixa claro que temos que ter em mente que as feministas não são nossas inimigas. Para nós, cristãs, os verdadeiros inimigos são espirituais (Ef 6.12).
Mesmo nós cristãs, com opiniões muito diferentes das feministas, temos algo em comum com as feministas: somos pecadoras.
As feministas colocam muita ênfase nos papéis, provavelmente pelo equivoco que cometem de igualar papéis com valor. Mas, esse não é o conceito Bíblico. Papéis não são iguais a valor intrínseco.
Vale destacar que a autora diz que a mulher deve submeter-se ao seu marido e não a todos os homens e que a submissão deve ser voluntária e não forçada, em obediência e adoração ao Senhor.
CAPÍTULO 4 – CHAMADA PARA UM PAPEL
Neste capítulo a McCulley conta sobre uma experiência que teve com um ex-namorado no rafting, um belo exemplo sobre papéis e responsabilidades, líder e liderado.
“Um seguidor compreensivo e cooperador é tão necessário para o time quanto um bom líder.”
"Um guia de rafting é o líder de vários outros remadores no barco. Alguns remadores podem ser novatos; outros podem ser bem experientes. Mas no rio, somente uma pessoa pode tomar decisões em águas turbulentas. Todo o restante tem que ouvir o guia e remar em sincronia, caso contrário, o time terá um indesejado mergulho nas águas agitadas."
No casamento, Deus nomeou o esposo para fazer o papel do guia e a esposa como remadora. O esposo tem a função de guiar o barco de acordo com as instruções Bíblicas.
“Ela recebe as instruções de remo de seu esposo e juntos eles navegam a turbulência da vida. Se ele não liderar bem, o barco pode andar em círculos. Se ela não seguir bem, o barco pode virar.”
A autora fala também sobre as diferenças biológicas entre homens e mulheres e cita alguns exemplos especialmente na área de anatomia e funcionamento do cérebro.
Por fim, a autora aborda Gênesis 1 e 2, demonstrando a igualdade entre homens e mulheres e seus diferentes papéis e sobre a importância dos nossos pensamentos em relação ao matrimonio.
“Ninguém pode forçar que você tenha um aborto ou veja pornografia. Se você não pode orar na escola, você ainda pode orar em casa, na igreja e em seu coração. Você pode fugir daquilo que julgar uma situação intolerável ao mudar de emprego ou escola. Mas o divórcio – a dissolução de um contrato mútuo solene no qual você empenha sua ida, sua honra, seu nome, seu compromisso e seu futuro – pode ser imposto a você sem seu consentimento. ” (Phyllis Schlafly – citado no livro)
CAPÍTULO 5 – NÃO HÁ LUGAR COMO O LAR
Esse é sem dúvidas o meu capítulo preferido do livro.
Linda Hirshman, autora feminista e advogada, criticou o feminismo de escolha. Hirshman acredita que o feminismo de escolha não é uma forma convincente de feminismo. Na sua visão, as feministas fizeram avanços no mercado de trabalho, mas falharam na transformação da família.
“Se elas deixam o mercado de trabalho completamente ou apenas reduzem seu compromisso, o talento e a educação delas são perdidos do mundo público para o mundo privado de roupas para lavar e ‘beijinhos em dodóis’.” (Linda Hirshman – citado no livro)
O que ela provocou com suas publicações foi uma discussão com duas frentes: (1) o valor do lar versus o mercado de trabalho e; (2) a definição e a prática da maternidade.
Dando continuidade ao capítulo, McCulley conta um pouco a respeito da história da domesticidade, como eram as casas dos hebreus nos tempos de Abraão até os tempos de Jesus e como são as casas dos americanos nos dias atuais. A autora também aborda os impactos gerados pela Revolução Industrial, pela Revolução Americana, a “maternidade republicana” e a “era ouro da domesticidade”.
A autora aborda como o Darwinismo Social impactou diretamente no relacionamento entre homens e mulheres e a respeito da economia do lar (como a “Maternidade Republicana” foi substituída pela “Sra. Consumidora”).
Para concluir o capítulo, McCulley demonstra que o coração do lar é encontrando nos relacionamentos nutridos ali e no conforto oferecido um ao outro, conforto esse que primeiro recebemos de Deus e depois compartilhamos com o próximo (1 Co 1.3-4).
CAPÍTULO 6 – A GUERRA DAS MÃES
O termo foi criado pela revista Child para descrever a tensão que existia entre mães que trabalhavam fora e as que ficavam em casa.
A cultura dominante considera que a criação de filhos não necessita de habilidades, desta forma não promove “status”.
McCulley deixa claro que na realidade, a guerra das mães não deve ser umas contra as outras, mas contra aquele que busca destruir a próxima geração daqueles que se levantariam para louvar a Deus.
É neste capítulo que a autora fala a respeito da relação entre a segunda onda do feminismo e o aborto e cita Margaret Sanger, feminista, eugenista, fundadora do movimento moderno pelo controle de natalidade. Sanger acreditava que todos dos “males” eram produtos das famílias numerosas.
“A coisa mais misericordiosa que uma família numerosa faz a um de seus membros infantes é matá-lo.” (Margaret Sanger – citado no livro)
Por fim, McCulley deixa claro que a Bíblia é pró-vida e sobre a importância de as mulheres mais velhas instruírem as mais novas.
CAPÍTULO 7 – O ENGANO DA CULTURA DA VULGARIDADE
Aqui a autora aborda o impacto da terceira onda do feminismo, o sexo radical ou sexo positivo, a cultura da vulgaridade e a falta de referência para as jovens, dentro outros pontos importantes que demonstram um certo “empoderamento” das profissionais de pornografia e prostituição. A autora demonstra como a pornografia influencia na violência contra as mulheres.
CAPÍTULO 8 – FÉ FEMININA
Na conclusão do livro, resta demonstrado que: (1) homens e mulheres possuem valores iguais perante Deus, porém, PAPÉIS diferentes e complementares; (2) observações parcialmente corretas ofereceram interpretações erradas e soluções falhas no decorrer da história e; (3) as igrejas precisam equipar o povo de Deus para pensar biblicamente sobre todos os assuntos da vida, inclusive a respeito dos papéis de gênero.
“A única coisa que Jesus não fez foi selecionar uma mulher para a posição de liderança. Jesus afirmou a igualdade de homens e mulheres como também apoiou o plano bíblico de papeis complementares. ”
APÊNDICE
No apêndice a autora disponibiliza dois materiais sobre a questão do abuso, seja ele físico, verbal ou sexual.
MINHA OPINIÃO
Gostei bastante do livro e recomendo para aquelas ou aqueles que desejam iniciar seus estudos a respeito do feminismo, partindo de uma cosmovisão cristã em relação ao movimento. Não concordo com todos os pontos do livro, como por exemplo, a “conquista” do voto feminino. Mas, esse é um tema a ser abordado por aqui mais para frente. Todavia, foi um livro que me gerou aproximadamente 80 páginas de anotações com um conteúdo riquíssimo e uma mistura de história, testemunhos e visão bíblica.
OBSERVAÇÃO COMPLEMENTAR
Para efeito de informação, embora eu não tenha contado na resenha, vale destacar que, ao final de cada capítulo, a autora conta um ou mais testemunhos, relacionados ao respectivo tema, de uma mulher que ela conhece pessoalmente.
Parabéns pelo belo trabalho! 👏👏 Sua forma sucinta e esclarecedora me deixou curiosa para adquirir o livro.